Uma americana chega a uma academia de dança na Berlim da Guerra Fria e descobre lá um bizarro e violento culto de bruxas a três entidades maternas. Essa é a trama de Suspiria, filme de Luca Guadagnino, remake do clássico giallo homônimo da década de 70 dirigido por Dario Argento.
O filme, que se distancia da obra original (e tem quase uma hora mais que o filme de Argento), traz uma certa profundidade à base histórica e utiliza o tempo extra no desenvolvimento de seus personagens. A Berlim que abriga a academia de dança é praticamente uma personagem aqui.

Dakota Johnson é Susie Bannion em Suspiria
Todos os elementos aqui empregados servem à história como amplificadores. Desde a belíssima trilha sonora de Thom Yorke que deve figurar no Oscar até a fotografia cinzenta e setentista saturada de Sayombhu Mukdeeprom que se distancia das cores berrantes do original, contribuem para uma estética primorosa que a direção de Guadagnino exalta com louvor.
Todos os atores também estão muito bem. Dakota Johnson traduz toda a inocência e sensualidade de sua Susie Bannion, entregando aqui talvez seu trabalho mais brilhante no cinema até o momento. Tilda Swinton surpreende como sempre, e aqui dá vida a três personagens diferentes mostrando mais uma vez sua habilidade de se despir e dar forma a diferentes tipos. Mia Goth, Chloe Grace Moretz e todo o resto do elenco também entregam o necessário e vão além. Destaque para Jessica Harper, a Susie do original que faz uma participação mais do que especial.
A coreografia é um show à parte. O belga Damien Jalet sabe utilizar as habilidades de Dakota Johnson (que fez a maior parte das cenas de dança sem dublê) a favor do longa. Uma sequência em particular, que culmina na morte da bailarina Olga (Elena Fokina) é uma das coisas mais perturbadoras já produzidas pelo cinema de horror e impressiona pela utilização de efeitos práticos — o filme é um dos pré-selecionados ao Oscar na categoria de Melhor Cabelo e Maquiagem.
Ainda que tudo no filme contribua para uma imersiva experiência no universo gótico da obra, Guadagnino parece demonstrar um certo receio em utilizar o terror de maneira crua na obra. O ápice do horror no filme é um show à parte, mas deixa a sensação de que falta algo. O roteiro de David Kajganich é bem-amarrado, e as mais de duas horas e meia não incomodarão o espectador imerso no filme, ainda que diversas cenas de desenvolvimentos paralelos sejam jogadas sem acrescentar muita coisa à trama necessária do filme.
O distanciamento do original se faz necessário à medida que Guadagnino cria uma identidade própria a seu novo Suspiria. A principal característica do filme é priorizar os desenvolvimentos psicológicos e a tensão ambiental que as situações trazem. Ao fazer isso ele se distancia do terror — não há sequer um susto ou jump-scare aqui — e cria um suspense psicológico com pinceladas de horror que vale ser conferido pelos amantes dos gêneros que ele homenageia, mas que fique claro: não é um filme para todos os estômagos, menos ainda para todos os públicos.